Municípios

ESPERANTINA: Conheça a história da Mulher que vira porca

Era abril de 2010, uma quinta-feira, o relógio já ajustava seus ponteiros para alinhar a meia-noite. Quatro jovens conversavam sobre suas aventuras, em uma casa modesta do conjunto Fazendinha, bairro humilde da cidade de Esperantina. Barulhos no céu avisavam que estava por vir uma forte chuva.
Um dos garotos lembra-se de uma história um tanto curiosa e muda o rumo das conversas. Os sorrisos dão espaço aos olhos assustados e atentos. Ele falava de uma velha senhora que morava quatro ou cinco casas a frente. “Já tem um tempo que os vizinhos desconfiam de seu comportamento estranho, dizem que ela vira uma porca gigante e ataca as pessoas”.
Ilustração: Jônatas Almeida
Até ali a história não passava de mais uma lenda, assim como tantas outras. Ele não estendeu muito o assunto, disse não se sentir confortável em falar da mulher. O conto não tinha sido muito convincente, seu amigos sequer acreditaram, mas o foco do assunto havia agradado. Passaram então a contar histórias de terror, nem sempre levadas a sério. Era comum terem gargalhadas ao final de algumas. Em meio a uma delas, um barulho nada comum chama atenção. Não era mais a chuva, que inclusive já caia, ainda que fraca.
O silêncio foi unânime e todos se olhavam intrigados. O som vinha dos arredores da casa. Eles se levantaram e chegaram mais perto da porta trancada, esperando que a zoada se repetisse e assim pudessem identificá-la. Estavam todos bem quietos, assustados. Era possível ouvir passos, cada vez mais próximos. O medo toma conta de todos. O som desaparece também e de repente uma pancada na porta de ferro instala o clima de terror na casa.
Os garotos correm para a cozinha, gritando. Não tinha mais ninguém na casa, apenas os quatro, dois nem mesmo eram da cidade, estavam lá como visitantes. A primeira reação foi se armar com facas e cabos de vassouras. A pancada se repete: “Vão entrar, eu vou morrer”, clama o mais novo entre eles. Dá para escutar novos passos pelo lado de fora, dessa vez mais acelerados. Então se ouve outro impacto, agora na porta da cozinha. Era possível ver uma sombra do outro lado, por uma fresta embaixo da porta. “Vamos abrir, estamos todos armados”, gritam numa tentativa desesperada de assustar o que ou quem estivesse do outro lado.
Passa-se pouco mais de cinco minutos, ninguém ouvia mais nenhum barulho. As conversas entre eles eram apenas com sussurros. Todos estavam “fortemente armados”, com pedaços de madeira e suas “faquinhas de serra”, mas o pior parecia ter passado. Os jovens não conseguiram dormir aquela noite, a mulher que virava porca foi o assunto que se arrastou por toda madrugada.
ESCLARECENDO OS FATOS
Conto essa história dos garotos, que não é fictícia, para mostrar como se propagam as lendas em minhas terras. Eu, Piauí, tenho muitas delas espalhadas por aí. A mulher que vira porca não é uma novidade em Esperantina. Na década de 60, 70, um porco que tinha o tamanho aproximado de um carro, segundo relatos, assombrava a população por supostamente ser violento. Dizem que na época começaram a desconfiar de um senhor, porque certo dia feriram o porco na pata e na manhã seguinte o homem apareceu com a perna machucada, mancando, do lado em que bateram no animal.
Há cerca de uma década a lenda voltou a se espalhar pela cidade, agora com suspeitas sobre Maria Carmélia (nome fictício para preservar a identidade da senhora – que faleceu há pouco tempo). “A casa deles sempre foi bem humilde, então pelo fato de ser assim, era meio assombrosa, porque era tudo escuro, não tinha energia. Era esquisita.”, contam os vizinhos.
As pessoas começaram a notar comportamentos estranhos. Carmélia começou a falar sozinha, fazer zoada. Um comportamento avesso ao do que lhe era peculiar. Alguns diziam que ela estava “atacando espírito”. “Teve um dia que ela fez a zoada de uma porca, imitou direitinho, caminhando na rua”, falaram.
Então começou a história, especulações de que ela virava porca. Depois da meia-noite, madrugada de quinta para sexta-feira, as pessoas diziam escutar um barulho esquisito na rua.
Todos começaram a ficar assustados com ela, com o comportamento estranho. Na realidade são poucos os que dizem já ter visto a porca gigante. Maria Carmélia tinha uma idade avançada, e no tempo que começaram os boatos, ela parecia ter perdido a debilidade, passos lentos foram substituídos por um caminhar rápido. “Eu cheguei a ver esse comportamento estranho. Era uma pessoa muito respeitosa, e do nada começou a ser grosseira, ela não tinha isso. As pessoas ficavam assustadas”, comentou um morador de Esperantina.
No Fazendinha tem muito dessas coisas, não era só a senhora da casa esquisita que o povo falava que virava bicho. Tem relato de pessoas que vez por outra – como se diz – veem esses animais “estranhos”.
Da: Serie " Eu, Piauí" do O Olho

Nenhum comentário:

Postar um comentário

rpf . Templateism.com Copyright © 2014 - 2015

Tecnologia do Blogger.